3.02.2007

Mãos ao alto


Giovanna, paulistana nascida na classe média-alta de São Paulo, estudou nos melhores colégios da cidade, teve acesso à cultura e tornou-se uma advogada tributarista muito respeitada no meio jurídico.

Bem-sucedida profissionalmente, sentia-se, ainda, infeliz. Tinha tudo, mas não tinha nada. Nada preenchia seu coração. As amizades eram superficiais, efêmeras. Fazia terapia semanalmente há anos. Lia livros sobre psicologia e auto-ajuda, mas não havia o sentimento que a despertasse para a vida, para o amor.

Certo dia, prestes a entrar em um bar, maquiava-se, sozinha, em seu Honda Fit em um bairro já afastado da Zona Sul de São Paulo quando ouviu no vidro do seu carro:

- Toc, toc, toc. Ô Dona, isso aqui é um assalto, mas relaxa! Não somos estrupadores e nada. Fica tranqüilis que nóis só qué ir no caixa eletrônico com a senhora. (sic)

Giovanna não reagiu e os ladrões entraram, armados, em seu carro, dirigindo-se ao caixa eletrônico para sacar algum dinheiro de sua conta-corrente.

- Ô dona, a senhora tem que aprender a não ficar bobeando na rua, Doutôra. Nóis nem ia te assaltar porque seu carro nem chama a atenção assim. Nóis só queria fugir de um assalto que nóis tinha feito, mas a senhora bobeou, nóis pegou a senhora mesmo assim. Mas fica calma que nóis só qué o dinheiro do caixa; nóis sêmo bons ladrão. (sic)

- É difícil, viu, dona. Nóis é ex-presidiário e aqui no Brasil não tem oportunidade pra nóis que saímu da prisão. Então, só nós resta o crime mesmo. Mas nóis tem ética e só quer dinheiro, apesar que seu carro aí é carro de pobre, hahaha. Se bem que a dona tem cara de rica. Hahaha. (sic).

E assim foi, entraram no caixa, sacaram o dinheiro e foram embora, deixando Giovanna assustada, perplexa mas com seu carro, bolsa, celular, i-pod. Deixaram também a sensação de vazio e de que a pobreza, a falta de educação invadem a sociedade, tornando-a violenta. Ainda assim, há ladrões que possuem valores morais e certa ética ao entrarem no mundo do crime.
Giovanna surpreendeu-se.

E usou o acontecimento para seu crescimento pessoal. Saiu deste assalto com uma vida renovada. Mais feliz, com fé em Deus e decidiu usar seus conhecimentos em prol de uma sociedade mais justa e humana. Executou um excelente trabalho social em prol dos ex-presidiários. Parece que já está obtendo êxito.

Sorte nossa.

4 comentários:

Breaking disse...

Por vezes são momentos traumáticos como este que nos fazem "acordar" da letargia em que vamos vivendo.

Por outro lado... os assaltantes... penso na reinserção social, existirá mesmo? Ou será que um deslize, um passo mal dado nos vai marcar para toda a vida? Infelizmente penso que na maioria das vezes marca, e claro estou a falar na situação de presidiários.. são perseguidos (quase sempre) pela marca de terem estado detidos uma vez na vida.

Beijinho

Jade disse...

Sorte dela também que agora pode usar os conhecimentos em prol de um mundo melhor e de quebra engrandecer sua vida!!

Codinome Beija-Flor disse...

Ás vezes só mesmo o remédio amargo nos dá cura.
Fico feliz por ela.
Lamento por eles que não tiveram a mesma oportunidade... "oportunidade da transformação"
Beijinhos

Andorinha... disse...

É verdade, Breaking. São estes momentos que nos trazem à realidade em que vivemos: por amor ou por dor. É assim...
Tomara que as coisas melhorem por aqui. Sinceramente, não vejo esta perspectiva, mas...não podemos matar a esperança.
Beijos, querida.

J@de, tem toda razão. Sorte nossa e sorte dela, principalmente, que enxergou uma grande possibilidade de crescimento pessoal. E sorte nossa, muita sorte. Beijos,

Esfinge,
É. Ouço dizer que ou por amor ou pela dor que nós tomamos consciência de alguns deveres. Às vezes, um chacoalhão é necessário. Quanto a eles, infelizmente, há tanta mão de obra boa e barata que eles serão os últimos na fila de reinserção social. Infelizmente...
Beijos,